O setor de energia renovável tem experimentado um crescimento exponencial nas últimas décadas, impulsionado pela urgência da transição energética e pelo compromisso global com a sustentabilidade. Segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), a expansão da capacidade instalada de energia renovável representou mais de 90% do total no mundo em 2024.
No entanto, esse avanço traz consigo desafios significativos, especialmente no que diz respeito à integração dessas fontes à rede elétrica existente. Um dos principais obstáculos enfrentados é o fenômeno conhecido como curtailment, que tem implicações cruciais para a eficiência e a rentabilidade dos projetos de energia renovável.
Neste texto, vamos explicar esse conceito, seus impactos e como ele está relacionado às fontes de energia sustentáveis.
O que é curtailment?
O curtailment, no contexto da energia renovável, refere-se à redução intencional da produção de energia de fontes renováveis, como solar e eólica, abaixo do que poderia gerar em condições normais. Em outras palavras, é quando se “desperdiça” energia que poderia ser produzida, mas não é utilizada devido às limitações do sistema elétrico ou excesso de oferta em relação à demanda.

Para explicar melhor, imagine uma fazenda eólica em um dia com muito vento. As turbinas têm capacidade para gerar 100 MW de energia, mas a rede elétrica só pode absorver 80 MW naquele momento. O operador do sistema, então, instrui a fazenda eólica a reduzir sua produção para 80 MW, “cortando” 20 MW de potencial energético. Esse processo é o curtailment.
Na geração solar, um exemplo similar ocorre quando painéis fotovoltaicos são desconectados ou sua produção é limitada durante períodos de pico de geração, geralmente ao meio-dia, quando a demanda pode não ser suficiente para absorver toda a energia produzida.
Essa prática é uma ferramenta de gestão de energia essencial para manter o equilíbrio e a estabilidade da rede elétrica, mas representa um desafio significativo para a maximização do potencial das fontes renováveis e para a eficiência energética global do sistema.
Por que o curtailment ocorre?
O curtailment é uma consequência direta de dois fatores principais: a intermitência das fontes renováveis e as limitações da infraestrutura da rede elétrica.
A intermitência é uma característica intrínseca de fontes como a solar e a eólica. O sol não brilha à noite, e o vento não sopra constantemente. Essa variabilidade natural cria desafios para o planejamento energético e para a gestão da rede elétrica. Quando há picos de produção que não coincidem com picos de demanda, o sistema pode ficar sobrecarregado, levando à necessidade de contenção.
Por outro lado, a infraestrutura da rede elétrica, em muitos casos, não foi projetada para lidar com a natureza distribuída e variável das fontes renováveis. Linhas de transmissão podem ter capacidade insuficiente para transportar toda a energia gerada em momentos de pico, e subestações podem não estar equipadas para gerenciar os fluxos bidirecionais de energia característicos da geração distribuída.
Dados da National Renewable Energy Laboratory (NREL) dos EUA mostram que, em algumas regiões, o corte de energia eólica pode chegar a 5% da produção anual potencial. No caso da energia solar, esse número pode ser ainda maior em determinadas áreas.

Impactos do curtailment no setor energético
O curtailment tem impactos significativos tanto na eficiência quanto na rentabilidade dos projetos de energia renovável. Quando a energia que poderia ser produzida é “desperdiçada”, isso reduz a eficiência global do sistema e aumenta o custo efetivo por unidade de energia gerada. Para os desenvolvedores de projetos, isso pode significar menor retorno sobre o investimento e períodos mais longos de recuperação do capital.
Do ponto de vista do planejamento energético, a ação representa um desafio complexo. Por um lado, ele é necessário para manter a estabilidade da rede; por outro, representa uma ineficiência sistêmica que precisa ser minimizada. O ideal é que os planejadores equilibrem a expansão da capacidade renovável com investimentos em infraestrutura de rede e tecnologias de armazenamento para otimizar o uso dos recursos disponíveis.
Essa prática também afeta a confiabilidade e a previsibilidade da geração renovável, o que pode impactar contratos de fornecimento de energia e a integração dessas fontes no mix energético global. Segundo um estudo da Bloomberg New Energy Finance, o curtailment pode reduzir a receita de projetos eólicos em até 10% em algumas regiões, afetando significativamente sua viabilidade econômica.
O futuro com as energias renováveis
À medida em que a participação das fontes renováveis na matriz energética global continua a crescer, a gestão eficiente do curtailment se tornará cada vez mais importante. Espera-se que avanços tecnológicos em armazenamento de energia e redes inteligentes reduzam significativamente a necessidade dessa ação nos próximos anos.
A integração de sistemas de armazenamento em larga escala, como usinas de bombeamento hidrelétrico e grandes conjuntos de baterias, permitirá armazenar o excesso de energia para uso posterior, reduzindo o desperdício. Além disso, o desenvolvimento de mercados de energia mais flexíveis e dinâmicos permitirá uma melhor correspondência entre oferta e demanda em tempo real.

A IRENA projeta que, até 2050, as energias renováveis poderão fornecer até 86% da geração global de eletricidade. Para atingir esse potencial, a gestão eficiente do curtailment será fundamental, transformando um desafio atual em uma oportunidade.
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